sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O underground gastronômico de Buenos Aires pt. 7 - Tomo 1

Tudo começou com uma tentativa frustrada de ir ao La Vineria de Igualterio Bolivar. Porém, o mesmo não abre às segundas-feiras (esteja este plural certo ou não). Desta forma, meu colega Alexandre, pesquisou sobre os melhores restaurantes de Buenos Aires. Em duas listas dos 10 melhores, o número 1 era o mesmo: TOMO 1. Nestas resenhas limos que havia um menu degustação de 6 passos por uns 200 pesos mais ou menos. Resolvemos conferir, passada a hesitação inicial.

O restaurante fica no 'sobre-piso' (se é que posso chamar dessa forma) do Hotel Panamericano, apesar de ter uma entrada, e elevador, próprios. O que dá um ar mais personalizado.

Apesar das recomendações, não fizemos reserva e tinha lugar sobrando. Não estava vazio, mas tinha lugares sobrando. O bar possui um balcão totalmente disforme para os clientes e uma bancada para que sejam preparados eventuais drinques do cardápio. O ambiente com pouca luz, e não escuro, o que me agrada muito, é, relativamente antigo (entenda apenas que não seja moderno, não que seja velho!).





Ao pedirmos o cardápio, fomos surpreendidos novamente pela ausência do menu degustação. O mais próximo que encontramos foi um menu de 3 passos por 180 pesos. Sem vinho, sem água, sem porra nenhuma. Questionamos o garçon que imediatamente chamou o educadíssimo Lucas Frattini para esclarecer nossas dúvidas. Perguntamos pelo menu degustação. Ai, ele foi surpreendido pela nossa pergunta. Percebi uma certa hesitação da parte dele, mas admiro sua astúcia pois rapidamente ele deu uma leve desconversada até informar que o menu degustação não estava escrito, apesar de existir, dependendo da disponibilidade das chefs. E, de antemão, ele já nos sinalizou que o valor do menu degustação seria de 450 pesos com direito a 8 passos. Pedimos que fosse averiguar com as chefs Ada e Ebe Concaro esta possibilidade. A resposta, para nossa sorte foi afirmativa.

Meu colega, um raro conhecedor de vinhos no meu círculo social, ao abrir a carta, não hesitou um instante sequer para escolher o Angelica Zapata, Chardonnay, 2005. Aprovado em 100% pela minha ignorância.

O que segue a partir de agora é uma avalanche de qualidade, criatividade, sabores intensos e variedade.

O cuidado foi tamanho que, quando pedi, no início da degustação, que fosse escrito o nome dos pratos em um papel para que pudesse guardá-los, não imaginava que seria entregue uma 'carta', com o adesivo do restaurante, e um papel timbrado, impresso, todos os 10, sim... foram 10 passos, do menu. Além, obviamente dos pães, torradas e manteigas de entrada.





Canapé de berenjenas, tostón con aceitunas negras e pimientos ou Canapé de beringelas, uma espécie de creminho de azeitona e pimentas. Eu, que não gosto de beringela, gostei!



Tapeo de chipirones rebosados con sus dips ou a nossa lulinha à doré. Destaque também para os 3 potinhos nas cores laranja, rosa pink e rosa claro, com molhos deliciosos E a crocância E o não excesso de fritura. Hávia (reparem na base do receptáculo das lulas) algumas coisinhas verdes fininhas e molinhas... saborosíssimas.



Vieiras gratinadas en sus jugos com juliana de apio. Aqui, é uma colherada em cada, com tudo que tem direito e com uma colher, que por falha minha não foi fotografada, mas com um formato peculiar, que deve ser o correto)



Crema de hinojos y su bizcocho crocante. Vejam e eu pude comprovar: é um creme e não uma sopa de erva-doce. Não é tão denso quanto um creme, nem tão líquido quanto uma sopa. É, apenas, muito bom!



Dumpling de camarones a la manera de Tomo I. O que curti aqui, além do sabor, obviamente, é que esse dumpling de camarão, veio servido, praticamente, dentro de um copo. Reparem que em muitos pratos há muitos verdinhos.



Ravioli de pato com lamina de mango. Não tinha comido pato antes, quiçá com manga que também não está no hall da fama das minhas frutas preferidas. Mas a textura da massa, com a da carne... e a manga quase que defumada ou cozida, molinha... é de perguntar se vende de 100 unidades.



Codorniz sobre vegetales aromáticos y chutney de frutas. Codorna é codorna. Vegetal é vegetal. Fruta é fruta. O que me surpreendeu aqui, foi o chutney de frutas que são uvas passas e outras coisinhas com a codorna!



Bife de lomo com cebollas caramelizadas, flores de coliflor y su puré. Aqui eu parei tudo joguei a mão pro céu e gritei: MEU DEUS! O filet-mignon (acho que era isso) ALTO, dava para, quase ser cortado com o garfo de tão macio. Quem me conhece, sabe que eu adoro cebola caramelizada. Junto com o dumpling de camarão, ponto alto da noite. Os demais ficaram coisa de décimos abaixo apenas.



Bouquet de hojas verdes con frutos secos, queso brie y nuestro paté. Não é salada! É um bouquet de folhas verdes com muito queijo brie e o patê da casa! Isso porque eu não falei dos grãos de bico! Duros, mas comestíveis, ainda... coisa que eu nunca tinha comido, provavelmente devido à minha ignorância gastronômica.



Parfait de chocolate al Cointreau. 'Parfait' que no latim é 'estrategía', em inglês é 'strategy', em francês é 'perfeito'. Na minha concepção, não tenho capacidade literária suficiente para falar algo sobre o 'perfeito' além da prepotência e de que estava realmente bom... Cointreau com chocolate é foda... ouvi dizer que até com café fica bom também. Experimentarei com água!



Mousse de maracuyá con frutas frescas. SIM! Vieram duas sobremesas, uma para cada pessoa. Experimentamos a de ambos. Aqui, a consistência do mousse é algo de impronunciável de bom!



Vale ressaltar que, quando chegou a carne vermelha, que orna melhor com vinho tinto, todos sabem, coincidentemente, nosso vinho branco estava no final. A partir de então, as taças de vinho vermelho não pararam de vir em nossa mesa... por conta da casa! Muito delicado, não?

Enfim... praticamente o D.O.M. de Buenos Aires.

Tomo 1
http://www.tomo1.com.ar
Carlos Pellegrini 521
1009 Buenos Aires, Argentina
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